terça-feira, 20 de outubro de 2009

DEU NO NEW YORK TIMES

Saiu neste respeitável jornal americano uma notícia que me deixou surpresa e como! Já sabia da existência de coaching para atletas, para executivos, o que está na moda atualmente, mas nunca tinha ouvido falar num "dating coach". Nem sei como se traduz, um "treinador de encontros"?Coach, de uma forma bem geral, é aquela pessoa que ajuda alguém a repensar seus comportamentos e alcançar seus objetivos.
Depois de passado o impacto, me lembrei de nossos encontros com pessoas separadas e me dei conta que isso fazia algum sentido. As pessoas que ficavam casadas por muitos anos se queixavam que tinham medo recomeçar suas vidas afetivas. Estavam fora de forma na arte da sedução, sentimento muitas vezes provocado pela baixa auto estima pós -divórcio ou até mesmo
porque achavam difícil lidar com o sexo oposto. Não sabiam como se comportar, o que conversar ,até onde ir num primeiro, num segundo encontro...
Recomeçar sempre é difícil, mas mais que um coach para se refazer a vida, talvez seja importante menos exigência consigo mesmo, tentar viver a vida e os amigos estão aí para um bom papo e boas risadas dos primeiros desastres na área da novas conquistas amorosas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Há alguns dias Nadia postou sobre a madrasta. Há também o padrasto, personagem que tem menos visbilidade na literatura infantil, diferentemente da madrasta, mas que também merece uma conversa. Apenas para provocar, em tempos em que se discute a paternidade sócio-afetiva, qual o papel dos padrastos na vida das crianças, adolescentes e jovens adultos que ainda vivem em suas famílias? É mais fácil para as madrastas, por serem meulheres adotarem os filhos do marido e assumirem cuidados e funções parentais? Os homens ficam mais distantes? Como sempre, os pré-conceitos não nos ajudam. Acontece de tudo. Padrastos que assumem filhos da atual companheira, outros que permanecem em posições mais periféricas na educação, mas são amigos, outros não. Mas, um assunto que tenho visto com alguma frequencia na clínica é o da separação em que a relação conjugal se desfaz e complica-se ainda mais este papel. Vi situações em que o padrasto mantém o vínculo com os enteados, ao menos por algum tempo. Em outras, o vínculo é rompido junto com o casamento. Em outras ainda, há tentativas mal sucedidas de manter o vínculo pelo padrasto, madrasta, mas que o pai ou mãe não permitem. Quais as possíveis alternativas para esta situação? Não há nenhuma lei ou regra que inclua explicitamente o lugar e os direitos e deveres de um padrasto ou madrasta. A cada novo arranjo familiar, vemos que as pessoas são criativas para adaptarem-se a suas necessidades e às possibilidades que têm. Mas, seguramente é mais um vínculo que merece atenção. Não seria o caso de se considerar a importância destes vínculos para os filhos e enteados? E para os adultos que muitas vezes participaram e amaram estas crianças? Por outro lado, vamos instituir mais regras, mais leis e questões de visitações e guarda de padrastos e madrastas? São perguntas que não tem respostas certas, servem para nos chamar à reflexão. Uma boa semana a todos!

domingo, 11 de outubro de 2009

DIA DAS CRIANÇAS

Antes que elas cresçam
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

sábado, 10 de outubro de 2009

MADRASTA , BOADRASTA .












Afinal quem é essa mulher que se costuma chamar de madrasta?

É aquela mulher que se casou com um homem separado, que tinha filhos da
relação anterior?
É aquela mulher que vai ter que manter uma relação com enteados, mesmo
que eles não morem com o pai ? Como vai dosar a autoridade quando eles estiverem presentes?
É aquela mulher que "roubou" o pai da mãe e fez com que todos se sentissem
muito infelizes, causando uma grande confusão na família, até então organizada?
É aquela mulher interesseira que quer todas as atenções do pai?
É aquela que quer mudar a decoração da casa, até dos quartos dos enteados,
que já estavam ajeitadinhos? Até onde vai seu limite de dona de casa?
É aquela mulher ciumenta da relação de seu marido com os enteados,
que não entende que o pai queira passar algum tempo a sós com seus filhos?

Precisa ser assim?

Desde pequenos as histórias que nos são contadas, dos contos de fadas, como o
da Cinderela, a figura da madrasta é sempre a malvada, que explora os enteados...
A madrasta já chega numa família com uma série de preconceitos:a interesseira,
a sem limite, a destruidora de lares, etc,,,
Quando uma mulher se casa com um homem que já tem filhos, o que pode ser
feito para que a vida de todos não se torne um verdadeiro inferno?
Em quantos lares, hoje em dia, existem madrastas ou melhor boadrastas?
( para evitar o velho e desgastado preconceito)
O que será preciso para esta mudança de nomenclatura, já que ainda não
surgiu uma melhor, que boadrasta?
A primeira coisa que me passa, vem do início dessa nova relação, do namoro
do pai e aquela com a qual ele pretende se casar.
Como o pai foi apresentando aos filhos, aquela que viria ser sua nova mulher?
Este começo,vai pavimentar muito da qualidade do caminho a ser
percorrido por estas pessoas.
Teve um intervalo de tempo razoável, entre a separação e o novo
relacionamento?
Como foi feita a apresentação da nova mulher, com uma certa culpa
( estou fazendo algo que vai ferir meus filhos)ou reforçado como um
direito legítimo de recomeçar sua vida afetiva?
Quando isto acontece muitas das dificuldades acima podem
ser minimizadas, pois os filhos sentem que é uma realação séria.
Não posso afirmar que seja uma situação fácil, mas com o fator
TEMPO, muito da tensão vai se amenizando, com a PACIÊNCIA,
tudo vai se resolvendo.
No caso da mulher, quando ela se sente apoiada pelo novo marido,
tendo seu espaço respeitado, vai se sentir mais confiante e portanto
menos ameaçada com este novo papel. Papel que não tem regras, porque
estas vão sendo criadas no cotidiano de cada família.
Boadrasta não é a mãe, mas pode ser uma bela coadjuvante, sem nenhum
demérito para esse papel, pode ajudar os enteados com suas próprias experiências.
Para simplificar na vida de famílias reconstituídas tem que haver um “protocolo”
de ações possíveis e das que devem ser evitadas. É um protocolo visto,
discutido e acordado por todos os envolvidos.
Desta forma, evita-se o enfrentamento, a competição, já que os limites
estão claramente demarcados e assim todos saem ganhando nesta relação tão delicada.

sábado, 3 de outubro de 2009

NOTÍCIAS FRESQUINHAS


Trago notícias fresquinhas do seminário do qual participei hoje: "Famílias pós-divórcio". 100 pessoas entre professores, diretores de escola, estudantes, advogados e estudantes de direito. Uma platéia interessada, que fez muitas perguntas e ajudou muito o andamento do seminário. Na mesa, a Profa. Leila Torraca falou sobre a separação dos pais e da guarda compartilhada, usando dados de diversas pesquisas que vem realizando na UERJ há alguns anos. Eu, centrei minha apresentação no ponto de vista dos filhos das famílias que passam pelo divórcio utilizando também dados de pesquisas e minha experiência com os grupos de adolescentes que eu e minha equipe temos feito durante mais de 10 anos. E Andréia Cardoso falou de sua pesquisa sobre a relação da escola com os pais separados. Agora em agosto saiu uma resolução que obriga as escolas a enviar toda e qualquer comunicação aos dois pais da criança, conviventes ou não com ela. Parece boabagem, mas isso foi um grande avanço para os pais que não tem a guarda e ficavam sem informações e sem acompanhar o desenvolvimento de seus filhos na escola. É um tema ainda pouco explorado, mas que tem ganho visibilidade na medida em que as escolas e famílias estão tentando encontrar maneiras de transformar ações que foram concebidas para lidar com famílias mais tradicionais.
À tarde tivemos a apresentação da peça "Depois que meus pais se separaram" encenada, escrita e dirigida por alunos, ex-alunos da graduação e pós-graduação da UERJ e que fazem parte do Projeto Palco Acadêmico. A peça é toda baseada nas falas dos adultos jovens entre 21 e 29 anos entrevistados em uma pesquisa sobre o impacto da separação dos pais nos filhos. Como vcs podem ver, um dia e tanto! Tivemos perguntas ligadas ao direito, à clínica, à escola e depoimentos pessoais emocionantes. E, além disso, ampliamos as discussões sobre as separações conjugais e continuamos na idéia de ampliar os recursos das pessoas para a conversa, a reflexão e o debate. Para completar o dia minha colega de doutorado, Andréia, lançou o livro que traz sua pesquisa de mestrado sobre escola e pais separados. Um recurso ótimo para afinar uma relação tão importante e que só agora começa a fazer parte das conversas. Vai aí a foto do livro para que possam ter o gostinho. Até breve!