sábado, 10 de abril de 2010

Sempre existe uma outra estória...


Esta semana, encontro um amigo que acompanhando nosso blog, leu o último post. Disse ele: "Aquela senhora poderia ser minha avó! Foi exatamente assim a história dela". Continuando nossa conversa ele me diz que a diferença para ele é que conheceu essa história de um outro ponto de vista. Ele era o neto, filho da filha desta mulher que durante toda a vida lidou com a ambigüidade entre ter tido uma mãe corajosa e que contestou costumes tão arraigados na época e ao mesmo tempo, para que isso tivesse acontecido, havia ficado sem a mãe durante uma grande parte de sua vida. Conversando com ele e conectada com todas as emoções de estórias de vida tão marcantes, cada vez mais gosto de pensar nossas vidas como um eterno fluxo de estórias. Cada uma delas, em momentos e pontos diferentes tem bifurcações, cruzamentos, apresentam dilemas, convidam-nos a viajar por caminhos que podem ser convergentes ou incompatíveis. Nas situações em que antagonismos e polaridades são a tônica, como podem ser os processos do divórcio, podemos ver isso todo o tempo: estórias que fizeram uns felizes, foram dolorosas para outros... Aprender a viver com isso, seguramente leva a algum tipo de sabedoria, é difícil, desafiante, mas quase que certamente, inevitável. Quantas estórias temos em nossas vidas que nunca paramos para pensar em qual a possível estória de outra pessoa sobre ela? Quantas vezes encaramos a estória de outra pessoa sobre nossa estória como inverídica, porque não é igual à nossa? Como ouvimos as estórias de nossos pares, filhos, pais e mães sobre as interseções de nossas vidas com as deles? Quantas vezes nos perguntamos sobre que estórias podem ser as deles?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

MULHERES

Conheci Maria numa sala de espera enquanto aguardava ser atendida pelo dentista. Foi uma amizade a primeira vista. Falamos de tudo um pouco.
Maria tem mais de 80 anos , mas é de uma jovialidade ímpar. Adora música , faz parte de um coral, está antenada com tudo que acontece.Desses encontros fugazes que só nos dão prazer.
Maria me conta que sua vida foi muito difícil, porque insatisfeita num casamento com um homem que não entendia e nem aceitava sua vitalidade, acabou por sair de casa, deixando para trás filhos, estabilidade financeira e reconhecimento social. Tudo isso numa época em que a sociedade não aceitava mulheres separadas, que havia muito preconceito, principalmente em relação aquelas que fugiam aos padrões.Uma mulher que abandonava os filhos não recebia apoio algum.
E Maria continuava a me contar com entusiasmo, que depois veio a conhecer a grande paixão de sua vida, um homem casado com o qual viveu um amor de 30 anos, tão proibido quanto intenso.Quando ele morreu, seu luto foi solitário, não pode se despedir como desejaria. Isso a fez cair numa forte depressão, da qual se recuperou muito aos poucos, principalmente através da música,
Repentinamente uma voz “dona Nadia pode entrar” me tira bruscamente daquele história tão verdadeira e tão humana e me leva para a cadeira do dentista. Que paradoxo!
Penso quantas mulheres tem a coragem que Maria teve, de pagar um alto preço para ir de encontro a seus sonhos, em busca da felicidade, mas principalmente de viver uma vida coerente com seus desejos. Vale a pena? Quem sabe?


À TODAS MARIAS QUE NOS AJUDAM A PENSAR!